Karate - A história

Origens do Karate



  1. Influências

    1. História

A evolução do Karatê sempre foi um mistério e suas origens exatas nunca foram determinadas com um grau de certeza. Baseado em descobertas arqueológicas e documentos históricos, conclui-se que métodos de combate desarmados foram praticados milhares de anos atrás.

Talvez uma das descobertas arqueológicas mais significantes aconteceu em 1839 quando o antiquário britânico e diplomata, senhor Austen Layard, descobriu durante escavações de Mesopotâmia (agora o Iraque), uma biblioteca enterrada que pertenceu ao Rei Assurbanipal do Império Assírio (668 - 626 AC.).

Umas quantias significativas de tábuas esculpidas foram recuperadas no local. Durante vários anos, foi descrita a epopéia de Gilgamesh. Gilgamesh era o rei de Urak na Babilônia (aproximadamente 2500 AC.) e as tábuas esculpidas o descreviam como grande guerreiro e instrutor de combate desarmado.

Embora existam evidências razoáveis para sugerir que Gilgamesh era um adepto da arte marcial, não foi possível estabelecer o grau de sua habilidade nas artes ou qualquer vínculo entre ele e as artes marciais como nós conhecemos hoje.

A Epopéia de Gilgamesh mostra o desenvolvimento de um sistema de defesa desarmada.

Baseado em pesquisas e escavações podemos dizer que as artes marciais chegaram a Índia com as invasões Arianas em 1500 A.C. Os Arianos eram um povo conquistador, do oeste europeu que adoravam as lutas.Verdadeiramente aficionados pela destruição, os Arianos estenderam seus domínios da Irlanda até a Índia.

Gostavam de esportes similares as olimpíadas dos Gregos. Existia uma luta que combinava o Box e a Luta-Livre, denominada de Pacrase. Neste tipo de luta não eram permitidos o uso de proteção ou armas, somente as mãos e os pés poderiam ser utilizados para atingir o oponente.

Ao invadir a Índia os Arianos se defrontaram com uma grande religiosidade. Os incríveis yogis eram guerreiros mentais, com sua paz interior, domínio do corpo e da mente. Resistentes a dor a fome ao frio, faziam coisas incríveis como caminhar em cima de brasas sem se queimar, permanecer de pé dias, dormindo ou acordado.

Os Arianos incorporaram técnicas espirituais e assanas (posturas) dos yogis ao Pacrase. Esta nova síntese os Arianos chamaram de “Vajramushti”, cuja tradução poderia ser “aquele cujo punho é inflexível”.

Esta arte se espalhou ao longo do delta do rio Ganges e China.

    1. Origem

“Vajramushti” era o estilo de luta dos Kshatrias, uma casta de guerreiros na Índia, que já possuíam um código de honra se assemelhando um pouco com o código de honra dos samurais “Bushido”.

Os estrangeiros que visitavam ou estudavam nos monastérios Chineses, tomavam conhecimento da arte marcial. Eram sacerdotes, chefes de estado, soldados e estudantes, que ao retornar as suas origens, difundiam o que haviam aprendido.

Na China, desenvolveram uma série de movimentos coreografados, conhecidos como “As dezoito Mãos de Lo Han”, conseguido maior harmonia e fluidez de movimentos.

Acrescentaram também o controle da respiração aprendido com os pescadores de pérolas Chineses. A essa nova síntese chamaram de Tai Ji Quan que significava “O Grande Punho Definitivo”. Na sua mais pura manifestação marcial foi chamada de Kung Fu, a arte dominante.

As raízes do Karatê atual até aonde podemos garantir é externa (gaika), mais precisamente da Índia e tem raízes no Shorinji-Kempo.

Aproximadamente no ano 510 o monge Daruma Daishi viajou da Índia para a China para ensinar Budismo no templo de Shaolin (Shaolin Ji).

O monastério de Shaolin foi nomeado assim por causa da sua posição dentro de uma floresta pequena, Shao que significa pequeno e Lin que significa madeira.

Conta à lenda que Daruma ao chegar lá encontrou os monges em precário estado de saúde, devido às longas horas que eles passavam imóveis durante a meditação.

Com objetivo de melhorar a saúde física, Daruma ensinou uma síntese de yoga, exercícios respiratórios e sumô indiano aos monges. Poucos resistiam ao treinamento que era muito duro, porém a necessidade de proteger o mosteiro de agressores externos era freqüente.

Os ensinamentos de Daruma Daishi são reconhecidos pêlos historiadores como a base do Shaolin Kung Fu.

A situação geográfica da ilha Okinawa entre a China e o Japão, reflete as características culturais próprias do seu povo, de que a arte marcial é um exemplo bem marcante.

Até hoje em alguns estilos de Karatê podemos encontrar influências dos movimentos iniciais que foram trazidos da Índia por Daruma.

Há evidências significantes mostrando que em Okinawa as artes marciais estão relacionadas com as artes Chinesas.

Em Okinawa a arte desenvolveu-se no ambiente da tradicional sociedade da ilha

Até o século IX as relações de Okinawa com o exterior eram praticamente inexistentes, embora os anais japoneses de 753 já a mencionem. Por esse fato (contrariamente ao que se verificou no Japão), a influência da cultura chinesa não se fez sentir até então, nem por via direta, através de contactos com o Império do Meio, nem por via indireta, através dos contactos com o Japão, uma vez que este se estruturava segundo o modelo chinês do Estado, tendo adotado também a escrita, a religião, as artes, as instituições e as idéias da China.

Porém, a partir do séc. IX, a ilha de Okinawa dava um salto desenvolvimentista significativo, resultante dos primeiros contactos com o Japão e como conseqüência da importação do ferro.

A utilização do ferro na fabricação dos instrumentos agrícolas provocou uma verdadeira revolução agrícola. Outras mudanças ocorreram na sociedade local: a religião budista, a escrita chinesa e outros saberes oriundos da China.

Em termos políticos, consolida-se poder territorial em torno de chefes locais. Entra-se num período de conflitos e alianças entre esses chefes locais, até à emergência, em 1316, de três reinos, ou federações de comunidades tribais: Chuzan (Montanha do Meio), Nanzan (Montanha do Sul) e Hokuzan (Montanha do Norte). É o período conhecido por Sanzan Jidai (período das Três Montanhas).

Estes três reinos encetam, individualmente, os primeiros contactos com a dinastia Ming da China, por forma a estabelecerem relações comerciais regulares. No entanto, o rei Satto, do reino de Chuzan, vai mais longe e presta, em 1372, vassalagem ao imperador Ming.

Foi neste momento que começou a importação de elementos das artes marciais chinesas que iriam constituir a base para a formação de uma arte marcial própria de Okinawa.

Em 1383 os três reinos passam a pagar tributos à China, situação que perduraria até 1883. É também a partir desta data, ou seja, cinco séculos depois, que Okinawa recupera o seu nome original, pois até então era designada pelo nome chinês Liuqiu, que, pronunciado em japonês, é Ryukyu.

Retomando um pouco o período do séc. XIV da história de Okinawa: em 1372, o imperador da China confere oficialmente o título de rei aos três reis de Ryukyu. E é a partir deste evento que, por ocasião das cerimônias de sucessão dinástica destes três reinos, se iniciam os deslocamentos para Okinawa de embaixadas imperiais chinesas. O navio que transportava estas delegações é designado na ilha de Okanshin, barco da Coroa. Repetindo-se 23 vezes desde 1372 até 1866.

Tais delegações, que integravam funcionários civis e militares e chegavam a atingir um total de 500 pessoas, tiveram um papel decisivo na divulgação das artes marciais chinesas.

É conhecido que as rotas de comércio existentes na ocasião entre Okinawa e China, geraram relações diplomáticas e culturais, com a troca de embaixadores e adidos militares entre os dois.

Outro aspecto que contribuiu para o aparecimento e aprofundamento da “arte de mãos vazias”, bem como para a consolidação da cultura chinesa e reforço das relações de dependência da ilha perante a China, teria sido a fixação na aldeia Kume, do reino de Chuzan (atual região de Naha), das designadas “36 Famílias”, de um grupo de chineses mercadores. A fixação destas famílias no reino de Chuzan correspondeu a um pedido nesse sentido formulado pelo rei Satto ao imperador da China, em 1392.

Estas 36 famílias eram uma espécie de funcionários oficiais do protetorado chinês, pois tinham entre outras missões, a da redação da escrita oficial da ilha. Viviam fechados sobre si próprios e praticavam uma arte de combate que simultaneamente era uma manifestação de poder e de manutenção da sua capacidade de defesa.

O início do período florescente de Okinawa começa em 1429 quando um dos três reis, Sho Hashi, vence os outros dois e estabelece o primeiro reino unificado da ilha. O imperador Ming confirma Sho Hashi como o rei de Ryukyu. Foi nesta primeira dinastia Sho que a arquitetura, a cozinha, o vestuário e a música chinesa tiveram uma grande penetração e um grande desenvolvimento. As melhores famílias de Okinawa começam também a enviar regularmente os seus filhos para estudar na China.

A segunda dinastia Sho inicia-se em 1470 e é nesta dinastia que o filho do rei Sho En, Sho Shin, proíbe os chefes locais de usarem armas e os incentiva a viverem como nobres na cidade de Shuri, capital do reino. É no seio desta classe que se exercitam as artes marciais de mãos nuas.

A partir de 1523 Okinawa vai viver a época mais próspera da sua história. A dinastia Ming e o xogunato de Ashikaga cessam as suas relações comerciais diretas, Okinawa passa a ser o grande entreposto comercial dos dois reinos. Foi durante este período, em 1554, que o imperador Ming resolveu reconhecer a importância da ilha e agraciá-la, oferecendo uma placa comemorativa em que proclamava Okinawa shurei no kuni ('nação de prosperidade'). Tal placa encontra-se na Shurei no Mon, uma porta especialmente construída para o efeito que, ainda hoje, é um símbolo turístico de Okinawa.

Dados os contactos comerciais cada vez mais regulares com o Japão e, naturalmente, em virtude da sua maior proximidade, os filhos das famílias nobres da ilha começam, por volta de 1572, a preferir os templos budistas de Kyoto como local de estudo, em vez de Pequim.

A prosperidade de Okinawa impele o xogunato de Tokugawa Ieyasu a exigir ao rei da ilha vassalagem, pela voz de Satsuma, chefe de clã fiel àquele xógum. Mediante recusa do rei da ilha em 1609 um exército de 3000 homens armados com espingardas (tecnologia militar introduzida no sul do Japão pelos portugueses em 1543), invade a ilha.

Okinawa vive até finais do séc. XIX sob a dupla dominação da China e do Japão, pois Satsuma mantém a relação de vassalagem de Ryukyu para com o imperador, por forma a não perder a rota do comércio de Okinawa com a China e os benefícios daí resultantes.

Verificamos, que a arte chinesa de combate com mãos entra em Okinawa por três vias: pelas delegações imperiais e de comerciantes vindos da China; pela fixação das “36 Famílias” chinesas na ilha, onde foram transmitindo conhecimentos; e, finalmente, pelos habitantes da ilha que viajavam para China, alguns dos quais permanecendo por períodos longos, designados para estudar as artes e ciências chinesas.

O Karatê surgiu deste intercâmbio entre os Chineses e os locais de Okinawa.

Com a ocupação da ilha por Satsuma é determinada, pela segunda vez, a proibição do uso de armas pela população de Okinawa, o que a leva a refinar as técnicas de combate de mãos nuas já herdadas. No artigo “Notes on Loochoo” (em chinês, Liuqiu, e em japonês, Ryukyu), integrado no Transations of the Asiatic Society of Japan (1872-1873), Ernest Satow é o primeiro europeu a relatar, com espanto, os feitos dos lutadores de Okinawa que “smash a large eastern water jar or kill a man with a single blow of his fist.”

Okinawa sofreu uma sucessão de invasões e períodos de opressão, devido a sua posição geográfica.

Não restam grandes dúvidas quanto às raízes chinesas na formação do karatê na ilha de Okinawa. Mas poder-se-á perguntar em que momento o To-Tê se transformou em Okinawan-tê.

    1. Okinawa

Evidência adicional da influência chinesa pode ser achada nos katas. Dois exemplos são o kata Kanku Dai e Chinte. Kanku Dai foi nomeado originalmente depois de seu criador, Kushanku que era o adido militar chinês em Okinawa.

Okinawa é a maior das ilhas do arquipélago de mesmo nome situado no mar da China oriental, entre o Japão e a Tailândia.

Em 1477, seguindo um período de turbulência política, o rei de Okinawa, Shin Sho, proibiu o porte de armas por quaisquer dos habitantes das ilhas.

Em 1609 a ilha foi invadida pelos japoneses que continuaram proibindo o porte de armas para qualquer um diferente dos Samurais.

Como resultado desta política de desarmamento, desenvolveu-se nas ilhas, em segredo, sistemas de combate desarmado que foi conhecido como "Okinawan-Te" ou Mãos de Okinawa. A partir deste momento passou a ser dividindo em 3 escolas a saber: Naha-Te, Shuri-Te e Tomari-Te. Estas escolas foram às precursoras do Karatê moderno.

Kara = vazias,Te = mãos

O sufixo “Do” foi acrescentado, significando caminho ou via, complementando o nome que passou a se chamar Karatê-Do. Do é o caminho que conduz ao equilíbrio, a harmonia e ao encontro do “Eu” interior. A palavra “Do” denota a influência da filosofia e da religião, dando um sentido espiritual ao Karatê.

O Karatê-Do pode ser definido como a arte que conduz o homem ao encontro de si mesmo e neste encontro, descobrir suas potencialidades latentes. O Karatê desperta no praticante o desejo de superar suas limitações.

Através de sua disciplina rígida e dos exercícios árduos, ensina a nunca desistir, a perseverar até o limite das resistências; e quando esta chegar avançar mais um pouco, expandindo as fronteiras que nos limitam. Ele molda o caráter, pacifica a violência, inibe a agressividade.

Sua filosofia está impregnada do Zen Budismo, mostrando que nossos únicos inimigos somos nós mesmos ou melhor os nossos defeitos e imperfeições.

A ligação do Karatê com o Zen Budismo é muito grande, na verdade sem esta parte filosófica não existe Karatê.

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